JOSÉ ANTONIO SOUZA – Ator, Diretor e Dramaturgo
“Maria Peregrina” é uma viagem ao coração da narrativa, com poesia e sutileza. Vitória sobre o mais fácil e sobre o usual. Com muita maestria e com a magnífica contribuição do elenco, o diretor Claudio Mendel fez um desvio proveitoso no caminho comum da expressão de cena e encontrou um atalho que registra uma tonalidade nova ao teatro. Trabalho de equilíbrio e domínio de palco, valorizando os riscos que o autor propõe no texto de Luís Alberto de Abreu, que nessa sua obra, estabelece como foco a narrativa, levada às últimas conseqüências.
O elenco, afinado com a proposta da direção, e equipado para realiza-la com mérito, nos deixa visível o brilho em todos os atores, que exercem uma espécie de disciplina cênica, extraindo desse exercício a unidade que os iguala nessa difícil opção de expressividade. O destaque é geral: de cada um e de todos.
O cenário e figurinos coesos com a harmonia delicada do espetáculo, quase todo em tom pastel, uma cor de casca de pão predominando nos trajes. Há nessa proposta, qualquer coisa de cálida nesse tom que completa e acrescenta discretamente à discrição criativa de toda a montagem.
Claudio Mendel, responsável pela direção do espetáculo, empresta com êxito o desafio de transformar o “causo” em espetáculo de Teatro, com plena compreensão do caráter morno da ação: faz disso uma costura cênica sem lances pontiagudos, de contornos suaves mas vivos, manipulando uma energia diferente para realizar a mise-em-scène. Dirige seus atores no tom e na expressão adequadas para o texto; obtém deles uma poesia sem estardalhaço, envolvente pela comunhão do assunto e da relação entre eles. Um trabalho maduro, corajoso, de tranqüila criatividade, num sentido oposto ao que é usual no campo dramático. Não há gritos, mas há tensão; não há recursos espetaculares, mas há espetáculo, na acepção encantadora da palavra.
Maio de 2002
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